Imagens de vida e festejos no cemitério
A morte e seus mistérios têm sido explicados a partir de abordagens heterogêneas de temor e interesse. É um tema que gera susto, mas, ao mesmo tempo, e de maneira contraditória, é fonte imensa de curiosidades. Todos os povos pretendem entender a morte, principalmente através da multiplicidade das su...
Autor Principal: | Amorim, Genoveva |
---|---|
Formato: | libro |
Idioma: | ita |
Publicado: |
2017
|
Materias: | |
Acceso en línea: |
http://dspace.ups.edu.ec/handle/123456789/13730 |
Etiquetas: |
Agregar Etiqueta
Sin Etiquetas, Sea el primero en etiquetar este registro!
|
Sumario: |
A morte e seus mistérios têm sido explicados a partir de abordagens heterogêneas de temor e interesse. É um tema que gera susto, mas, ao mesmo tempo, e de maneira contraditória, é fonte imensa de curiosidades. Todos os povos pretendem entender a morte, principalmente através da multiplicidade das suas mitologias. Em alguns casos, a morte contém significados de negatividade, como ocorre nas sociedades modernas; existem, porém, culturas que a concebem como uma dimensão constitutiva de própria vida. Nessa direção é que os povos indígenas do Equador, da Bolívia, do Brasil, entre outros, posicionam a sua visão sobre o bem viver, que não pode ser compreendida excluindo o bem morrer. Evidentemente, a complexidade do tema contempla uma ampla variedade de enfoques, simbologias e reflexões que superam as capacidades culturais de racionalização, inclusive dentro do campo das ciências sociais. “Imagens da vida e festejos no cemitério. Etnografia da morte na comunidade Mundo Novo (Esperantina-Piauí)” é uma contribuição que se situa neste âmbito. Em um esforço etnográfico de reflexividade e emotividade belamente tecidas, Genoveva Amorim convida a viver sensações interconectadas de temor e curiosidade, explicando, de maneira simples, temas de indiscutível complexidade social. Expõe advertências culturais sobre riscos e possíveis fatalidades, sem deixar de lado as emoções que a perda dos seres queridos provoca. Permite que as narrativas se confundam com crenças míticas e suspeitas sobre um mundo de sacralidade e respeito, onde os rituais articulam os cenários com as práticas de festejo; tudo isso é evidenciado pela precisão metodológica deste trabalho.Escrever prefácios é um desafio: trata-se de não distorcer a leitura com interpretações antecipadas, pois esta tarefa subtrai poder ao ato de surpreender. A revisão e o estudo de um texto, em minha opinião, devem estar catapultados pelo desejo e pela motivação. Por isso, tento não oferecer uma guia, como os promotores de turismo fazem. De forma muito transparente, quero abrir uma janela para que o leitor ou a leitora se interessem pelo tema. Entrar pela porta não constitui uma novidade, nem implica o risco que supõe entrar pela janela. É isso mesmo que a morte me provoca, e o texto de Genoveva reforça tal conexão. É uma entrada diferente para
compreendermos a vida. Em consequência, faz com que as pessoas se atrevam a ingressar de uma forma incomum. Parece-me que este texto provoca essa surpresa, pois não se esconde diante o medo da morte. Faz com que o tema carregue, sem dúvida nenhuma, vários processos geradores de curiosidade.
Da mesma forma, considero o uso que a autora faz das contribuições de Geertz e de Rosaldo: ela não se detém em labirintos epistemológicos; não nega a epistemologia, mas facilita ao leitor ou leitora um percurso em outras epistemes, sem complicar-se com discussões repetitivas sobre objetividade e subjetividade. Aposta na compreensão das comunidades a partir do valor da subjetividade, mostrando, com clareza, que o sujeito cultural e as suas interpretações não desenvolvem preconceitos arbitrários, tal como as posições positivistas tentaram universalizar. A respeito dos resultados da pesquisa, é possível identificar e compreender um campo importante da identidade cultural dos habitantes da comunidade de Mundo Novo. Da mesma forma, o livro oferece um caminho útil para interpretar estas temáticas a partir das narrativas e vivências; e estas são, ainda, assumidas pela pesquisadora, que pertence ao povo e a sua história. Uma das contribuições mais significativas do texto é o fato de que a formação etnográfica e antropológica da autora não está desvinculada da realidade pesquisada; ao contrário, é um trabalho de militância inovadora, que integra muito bem as suas perspectivas de intelectualidade orgânica em diálogo estreito com aspectos autobiográficos. Em relação à abrangência da pesquisa e as suas perspectivas futuras, considero que o leitor e a leitora devem também assumir tal tarefa. Destaco a participação intergeracional, que foca em relatos de jovens, adultos e mulheres. Uma das necessidades, nestes tempos de hegemonia capitalista
globalizadora, é a de priorizar o protagonismo das novas gerações, que não estão se engajando em iniciativas de proteção e promoção de saberes e conhecimentos de diversidade dos povos, uma problemática em preocupante ascensão na América Latina. Este trabalho abre uma importante rota para tratar o problema, aspecto que deve ser levado em conta nos planos de vida, nos projetos de desenvolvimento e na construção de novas propostas de revitalização cultural. Em definitivo, Genoveva Amorim realiza uma relevante contribuição. Confesso que aprendi muito, tanto na orientação da pesquisa quanto na leitura final do presente texto antropológico. |
---|